quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Do site da Carta Capital

A volta por cima da escrevinhadora

30/09/2008 14:39:59
Carlos Leonam e Ana Maria Badaró

O cenário é a Rua Pedro Lessa, uma pequena travessa que liga a Rua México à Avenida Rio Branco e que foi transformada num bouquiniste carioca, sem o rio Sena ao fundo, é claro. No trecho, se vende de tudo em matéria de revistas, CD e LPs raros. Um maná. E não é que uma fila, destoante do negócio que ali impera, chama a atenção do passante? Uma jovem senhora, compenetrada, bem vestida, óculos, meias finas, botas cano longo nesse Rio semi invernal, chegando ao primaveril-estival, produz um sonzinho familiar num ritmo intermitente: tec-tec-tec. O mobiliário é uma mesinha e um banquinho.

Há naquela mulher a agilidade de 150 batidas por minuto das inolvidáveis datilógrafas profissionais copistas, diplomadas com louvor nos cursos da Remington ou Téd (o mais famoso de datilografia do Rio, até os anos 1970) e cuja sigla significava “Tempo é dinheiro”. Daí tantos toques. Quanto mais toques mais valorizadas eram essas profissionais, que não olhavam para a tecla e compunham um texto, usando os dez dedos (!!!!) sem desgrudar a vista da folha que copiavam ao lado. E que belas tabelas produziam, de fazer babar qualquer Excel. E que perfeição de margens à direita perfeitas. Nós, jornalistas, não confessávamos, mas tínhamos inveja daqueles textos limpos.

A idéia que provoca a fila de senhores engravatados, senhoras de tailleurs e jovens com ares non challance é mais um produto da burocracia e da economia informal: a moça aproveita a proximidade e a demanda do Tribunal de Justiça e preenche qualquer tipo de formulário, desses que se paga no banco para tirar documentos oficiais, os darfs, e darjs da vida. O preço? Um real, se o cliente trouxer o formulário e dois reais se não trouxer o dito cujo que será prontamente oferecido, ou melhor, preenchido. A atividade não chega a ser uma surpresa, pois algumas papelarias próximas à Polícia Federal, na Praça Mauá, onde se retira passaporte, inclusive, prestam o serviço indoor. Mas ao ar livre e com toda a altivez da datilógrafa... A ferramenta de trabalho da moça, a Olivetti Lexicon 80 (criada pelo pintor Marcello Nizzoli circa 1950, e considerada pelo Illinois Technology Institute como o melhor design de um produto em 100 anos), com certeza desperta saudade em muito cyber-marmanjo. Já a Lettera 22 (que está no MOMA, de Nova York) foi o laptop de toda uma geração de repórteres em cobertura internacionais.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi, Cláudia... Obrigada! Acho que o contato com os meninos está sendo bom...
Ah! Vou tentar contribuir mais pro blog do curso, viu???

Bjks