quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Entrevista Faccioli

É bom ler sobre a paixão pelo Jornalismo. Em forma de entrevista fica ainda mais agradável.

"O que eu falo é o seguinte: ninguém está jornalista, mas sim é jornalista. É 24 horas. Tem de se doar o tempo todo. Jornalista não tem hora, nem lugar. Então, você tem de abraçar essa causa. Mas é apaixonante." (Faccioli)

Entrevista feita pela Catho Online

LUCIANO FACCIOLI - PAIXÃO PELO JORNALISMO

Letícia Fagundes

Ele tem 42 anos, 23 dos quais dedicados ao Jornalismo. Luciano Faccioli é conhecido pelo jeito espontâneo e pelo vozeirão inconfundível.

Atualmente, o jornalista trabalha exclusivamente para a TV Record, onde apresenta pela manhã o "SP no Ar" e também é repórter. Mas a maior parte da carreira foi passada no rádio, sua mídia preferida por causa "imediatismo" com que atinge o público.
Foram 21 anos focados em futebol, também uma paixão. Porém, Faccioli agora está voltado para o jornalismo geral, mais especificamente na prestação de serviços. E garante ser muito feliz por poder usar a profissão para ajudar as pessoas.

Faccioli afirma ser na televisão exatamente o que é pessoalmente. Diz ter aversão a sensacionalismo e, para quem quer ser jornalista, avisa que a profissão é apaixonante, mas é para quem quer ficar 24 horas no ar. "Ninguém está jornalista, mas sim é jornalista."

Entre uma reportagem e outra, Faccioli atendeu o Jornal Carreira & Sucesso e falou um pouco mais sobre a carreira de mais de 20 anos.

Jornal Carreira & Sucesso: Antes de ser jornalista, você foi bancário. Como mudou assim, da água pro vinho?
Luciano Faccioli: Na realidade, antes de ser bancário eu fui gerente de uma loja em Vicente de Carvalho, no Guarujá. Eu já fazia faculdade de Jornalismo. Aí, então, eu trabalhei em banco para pagar a faculdade e ajudar em casa. Mas eu sempre quis a área de Comunicação. Na Copa do Mundo de 86, o Brasil jogava por volta de 15h15, 15h30. Eu pedia pra minha gerente para sair mais cedo, mas mesmo assim eu não conseguia me concentrar. Aí fui mandado embora. Eu fui o funcionário demitido mais feliz da vida.

C&S: Como começou no jornalismo?
Faccioli: Minha primeira atividade na área foi em 1986. Ninguém me dava oportunidade e eu paguei e comprei o horário da Rádio Clube de Santos, uma que o Pelé era um dos donos. Eu comecei fazendo um programa infantil. O nome do programa era "Viva Criança". Dessa rádio eu fui contratado por uma outra rádio, chamada a Tribuna de Santos. Daí eu não saí mais do rádio.

C&S: Logo no início da carreira, você partiu para o jornalismo esportivo. Foi uma escolha ou um destino?
Faccioli: Eu sempre gostei de futebol. Eu sou torcedor do Santos. Meu pai me levava muito na Vila Belmiro para assistir aos jogos. Então, sempre gostei mesmo. Mas a maior oportunidade que eu tive em esporte foi quando eu fui convidado para trabalhar na Jovem Pan. Foi em 1990 e fiquei até 2001, sempre fazendo futebol. Dos meus 23 anos de carreira, 21 foram voltados para o futebol.

C&S: Você ficou muito tempo no esporte, mas desde o programa "Tudo a Ver", da TV Record, mudou de área. Passou a fazer reportagens gerais, mais ligadas a denúncias, investigações. Gosta desse assunto?
Faccioli: Eu fui contratado pela Record para substituir o Milton Neves no "Debate Bola", quando ele foi apresentar o "Cidade Alerta". Ele me ajudou muito. Mas outra pessoa que me ajudou muito foi o Paulo Henrique Amorim, que me chamou para fazer um quadro no "Tudo a Ver", voltado para o entretenimento, denúncias, prestação de serviços. O quadro chamava "Assim Não Dá". Deu para ajudar muita gente, comunidades, principalmente quando envolvia falta de transporte público, saneamento básico. Infelizmente, as coisas só funcionam sob pressão. Então a gente ia lá, denunciava o problema e o poder público resolvia. Sobretudo se fosse ano de eleição, né? Eles são caras-de-pau mesmo. Mas eu me sentia muito feliz em ajudar um pouco. Usar o Jornalismo para prestar serviço é muito bom. Então, eu não tenho saudade de cobrir esporte.

C&S: Qual o limite para não virar jornalismo sensacionalista. Você tem essa preocupação?
Faccioli: Tenho verdadeira aversão a quem explora a pobreza, o crime. Aqueles colegas de profissão que fazem com o que o cara que morreu com cinco tiros tenha morrido com 50. Não gosto de quem trabalha assim. Sensacionalismo, eu estou fora. Se por acaso me pedirem para interpretar alguma coisa, não vai ser comigo. Eu sou jornalista, relator de fatos, formador de opinião, com muito orgulho. Eu não interpreto. No núcleo de dramaturgia da TV tem muito bom ator e atriz. Eu não sou ator. Sensacionalismo, comigo, não.

C&S: Você faz muito ao vivo, narra os fatos que vão acontecendo no momento. Cobrir o inesperado te agrada?
Faccioli: Adoro. Eu prefiro 1 milhão de vezes fazer ao vivo do que gravar. Se tiver um buraco no ar, por exemplo, e me pedirem para comentar 10 minutos, eu faço. Eu brinco que, quando criança, além de comer bastante, eu tomei muita sopa de letrinhas (risos). Então, no ao vivo eu me garanto. A adrenalina do ao vivo é muito legal. Eu sou muito ansioso e gosto de ver a notícia vindo e já indo no ar.

C&S: Talvez por isso goste tanto de rádio e TV? São suas mídias favoritas?
Faccioli: São sim, porque são imediatas. Eu gosto de rapidez. O rádio então é maravilhoso. Você vai descrevendo algo que a pessoa não está vendo, é muito bom. Agora eu estou afastado do rádio, mas eu já quero voltar.

C&S: A rotina de um jornalista é muito agitada. Na verdade, não há rotina. Dá para conciliar o jornalismo com a vida pessoal?
Faccioli: Eu sou 220 na tomada. Se eu tiver que dormir pouco para conciliar minha profissão com meus compromissos pessoais, não tem problema. Eu não me privo de nada.

C&S: Numa ocasião, você chegou a passar mal durante um programa ao vivo. Você acha que aquilo te influenciou no sentido de tentar diminuir o ritmo?
Faccioli: Eu sou diabético e tive uma descompensação enquanto apresentava o "SP no Ar". Deu um mal estar e eu achei que ia cair no estúdio. Aí eu chamei uma colega que entrava do helicóptero e ela passou a chamar as reportagens. Bom, eu fui para o hospital e fiquei uma semana internado. Eu tenho 42 anos e sei que me cuido, mas não como deveria. A internação foi um aviso, sim. Fiz algumas mudanças depois do que aconteceu. Senão a casa cai, né? (risos)

C&S: Como você vê o Jornalismo de quando você começou, na década de 80, e o de agora?
Faccioli: Está muito melhor agora. Com o avanço da tecnologia, a facilidade que as pessoas têm de obter informação, essa questão democrática de cada um assistir ao que quer, está muito melhor! A Internet, os canais a cabo, a quantidade de empresas de comunicação, melhorou muito tudo isso. Hoje em dia, por exemplo, talvez eu não precisasse comprar aquele horário que eu comprei na Rádio Clube de Santos quando comecei.

C&S: Tem mais espaço?
Faccioli: Mais espaço, mas também é mais concorrido. Hoje, todo profissional tem de se diferenciar em alguma coisa. Tem de falar idiomas, ser versátil, tem de ter diferencial. As empresas também oferecem maior qualidade para os profissionais atualmente. É claro que para quem quer pagar salário de fome e usar profissionais meia-boca também é um prato cheio. Mas, em geral, está melhor, sim.

C&S: Qual o recado para as pessoas que querem seguir na carreira?
Faccioli: Eu vou muito em faculdade e gosto de mostrar como é o dia-a-dia da profissão. O que eu falo é o seguinte: ninguém está jornalista, mas sim é jornalista. É 24 horas. Tem de se doar o tempo todo. Jornalista não tem hora, nem lugar. Então, você tem de abraçar essa causa. Mas é apaixonante.

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